Na moita

Caché, de Michael Haneke
Haneke brinca com o espectador desde os créditos de abertura. Condiciona a narrativa à verdade de sua câmera, ora parada, ora em movimento. Realiza intenções. Não é apenas o casal, vivido por Daniel Auteuil e Juliette Binoche, que se sente incomodado com tapes invasivos e desenhos agridoces. O "escondido" da tradução de Caché é menos o hipotético sujeito que brinca de voyeur e mais o próprio ser humano e seus esqueletos de armário.
E somos todos nós. E daí surge uma estranha identificação com um filme invariavelmente esquisito, que faz suspense sem lembrar qualquer outro no gênero. E é absurdamente mal-resolvido, o que incomoda ainda mais que um par de cenas-chave de impacto inigualável. Cenas estas que talvez fiquem como lembrança representativa de um todo, sublimando dentro e fora do fotograma aquilo que realmente pesa no estômago: fechar as janelas, tomar um comprimido e dormir, como se tudo finalmente voltasse ao normal com um paliativo extremo.
Sobra a parcialidade, no sentido da parte resolvida por um, e não por todos. E o todo de um grande filme que fatalmente resulta simples em sua vontade de chocar e perturbar, e que, por isso mesmo, já o torna digno de ser revisto e ampliado. Interessante observar que, com este aqui, o anterior A Professora de Piano pareça, finalmente, bem maior do que antes percebido.
1 Comments:
É um filme provocantivo em todos os sentidos.
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