Limão Matutino

Quarta safra

28.8.06

Falos subversivos


Junebug, de Phil Morrison

Com a maior cara de anos 80, Junebug acaba sendo uma grata surpresa. É mais um daqueles exemplares “casos de família”, e neste aqui a refinada Embeth Davidtz (ótima) se manda pros confins de lugar nenhum para a) tentar cooptar um polêmico artista autodidata-e-meio-tantã e b) conhecer a família de seu marido (Alessandro Nivola).

Gente sofisticada encontrando gente simples só pode dar numa coisa: lição de vida. E por mais que a doce Madeleine (Embeth) tente fazer a média, suas verdades de metrópole acabam soando como grandes ofensas. Menos mal que da família do amado quase ninguém pareça normal. E é no seio desse povo esquisito que surge a grávida vivida por Amy Adams, insuspeito talento de um elenco acima da média (incluir Celia Weston e Frank Hoyt Taylor, como o impagável artista maluco).

Falando pelos cotovelos, pode-se arriscar em Ashley, de bate-pronto, aquele papel de coadjuvante que cativa por ser tão insuportável. Mas Amy Adams, que um dia fez a "seqüência" de Segundas Intenções, é transcendental. Podemos ver em seus olhos a vontade desesperada de quem quer mudar, freada pela entrega a uma instituição ainda maior – no caso, a família que virá com o filho e a esperança de que isso deixe o marido grosseiro um pouco mais afável.

Não é injusto, portanto, aponta-la como o melhor de Junebug, ainda que o filme guarde mais um punhado de pequenos prazeres. Eu, particularmente, fiquei bobo com a cena dramática que corre na cama do hospital, logo após o parto. É isso que vai ficar, mais que negros pintados com rostos brancos e amigáveis, subjugando o inimigo com enormes falos. Não, Junebug não é tão comum como faz pensar o troncho batismo nacional (Retratos de Família).