Limão Matutino

Quarta safra

13.12.06

La madre muerta


Volver, de Pedro Almodóvar

Penélope Cruz brilha! E como nunca antes, nem mesmo em filmes de Almodóvar, apesar da célebre passagem pela abertura de Carne Trêmula. E mesmo com elenco feminino plural, Penélope está lá, iluminada, eficiente, grande atriz – adjetivos que insistiam em lhe passar longe, tamanha nojeira que vinha fazendo, sobretudo nos americanos. Dona!

Volver, que finalmente nos rende e justifica essa atriz tão esquisita, é um Almodóvar seguro. Não o melhor, mas ainda bom pedaço de um cinema bastante peculiar, feito de cores que agora servem a um enredo mais melancólico. Nada estranho à filmografia do diretor, mas diferente, que se finge baseado no sobrenatural, num primeiro momento, para depois planejar mudanças de foco.

Volver é, também, o retorno ao universo feminino forte e às personagens queridas e idiossincráticas de Almodóvar. Tem a morte como cenário investigado, em certos tons alegres. O resultado só poderia ser a delícia de sempre.

Movimento coprofágico


A Fonte da Vida, de Darren Aronofsky

Que raio de filme é esse? Cafona e indigesto até a tampa! É Aronofsky atingindo níveis incríveis de pretensão e mau-gosto. Como se diz aqui no Nordeste, quem mandou dar ousadia a esse cabra? Afe!

5.12.06

Trois couleurs


Happy Feet, de George Miller

Este simpático filme de bichos falantes lembra narrativamente Babe – O Porquinho Atrapalhado. Não por coincidência, o diretor George Miller é produtor dos dois filmes do porco pastor, e diretor/roteirista do segundo. Há empatia com a história do pingüim dançarino numa sociedade de pingüins cantores, com brechas para poesia ecológica e soluções geralmente criativas. Perde-se um pouco no final corrido, mas vale pelo conjunto, principalmente pelo inusitado (embora pareça, à primeira vista, mais do mesmo). Atenção à sinuosa Norma Jean, dublada por Nicole Kidman, e aos dotes vocais de Brittany Murphy – mesmo na versão em português, as canções permanecem com som original.



O Labirinto do Fauno, de Guillermo Del Toro

Mais violento do que se poderia supor, Del Toro faz de O Labirinto do Fauno irmão de A Espinha do Diabo. Há o pano de fundo político – a ditadura de Franco, na Espanha – sublinhado pelo imaginário infantil. No caso, a menina Ofelia, espécie de Alice em seu particularíssimo país das maravilhas, que parece criar um conto de fadas para escapar de uma realidade cruel, com o casamento da mãe grávida com um general perverso. As duas linhas se fundem de forma perfeita, e o encanto é totalmente permitido, com direção de arte e efeitos especiais de primeira. Bela atuação de Maribel Verdú (E Sua Mãe Também).



O Grande Truque, de Christopher Nolan

Nolan talvez seja um verdadeiro visionário. Seu trabalho em O Grande Truque é tão singular que nos leva a acreditar num tipo de cinema muito à frente de seu tempo – assim como o ultracultuado Memento. A encenação impressiona, o duelo entre Hugh Jackman e Christian Bale sustenta os melhores momentos da carreira de ambos. A costura da história é de uma engenhosidade invejável, de longe o melhor roteiro de 2006. Mas não custa falar mal de Scarlett Johansson, que mostra incapacidade dramática pela segunda vez seguida, logo depois de Dália Negra. É apenas um espectro da atriz encantadora de Encontros e Desencontros e Match Point. Uma pena.