Limão Matutino

Quarta safra

6.9.06

Rabo de saia


Apenas Um Beijo, de Ken Loach

O egoísmo de Roisin Hanlon é a síntese do "amor ocidental". Ama-se por conveniência, por querer; somos todos livres para amar, e também para livrar-se dele usando os conceitos da mesma liberdade. E a liberdade de Roisin é também tolhida por seu espaço católico, por sua inadequação de valores morais ditados por alguém com mais poder.

Mas Roisin permanece egoísta em seu amor, que afeta a vida de outras pessoas. Tradição versus quebra de tabus para o namorado de origem árabe, Casim Khan, moderninho, porém preso ao seu próprio ciclo existencial. De um lado, a vontade de viver um romance com uma mulher branca; do outro, a desgraça iminente da família a partir de seus atos.

No que Casim luta pelo que sente, luta também para que a egoísta Roisin perceba que o "amor pra sempre" que ela (não) lhe promete não pode terminar nos moldes ocidentais. Há sofrimento, recalque, e de pessoas além do relacionamento do casal, muitas vezes baseado em pura chantagem emocional. A desgraça insinuada não é sequer mostrada efetivamente no filme de Ken Loach. Quando Apenas Um Beijo acaba, e o julgamento de caráter está feito (do lado de cá, diga-se), cabe a cada um perguntar: vale mesmo a pena?

Para os pais e a irmã mais velha de Casim, a pena é a morte social. Para Roisin, apenas ser feliz, nem que seja por hoje. Para Casim, é mudar-se internamente, para sempre. Quem seria o mais idiota? Tahara, a idealista filha mais nova, poderia responder com certa propriedade.