Limão Matutino

Quarta safra

10.10.06

Beleza roubada


A Dama Na Água, de M. Night Shyamalan

Eu odiava Sinais. Foi um filme que vi com olhos comuns, esperando exatamente aquilo que era vendido: medo, susto, efeitos especiais. Para mim, resultou chocho, um suspense que não investia alto em sua própria premissa, que se entregava a uma certa preguiça. Os ETs eram de CGI vagabundo e tinham medo de água. A trama parecia fechada em trivialidades, e Abigail Breslin, a pirralha, era chata demais.

Anos depois eu pude entender Sinais, e foi depois de A Vila. O impacto do monstro falso da falsa vila medieval me fez repensar M. Night Shyamalan como o cineasta das entrelinhas, muito mais que o das reviravoltas. E compreendi Sinais como um bom filme sobre superação de medos. E que o mais importante estava exatamente na história. Preguiça minha, portanto, de achar que o cara só podia me oferecer a sugestão da casa, quando o prato mais caro era infinitamente mais saboroso.

Talvez essa seja a mola-mestra de todos os seus filmes: o medo superado. Não o medo causado no espectador, não o medo que perturba, mas o que ensina. Há sempre uma lição a ser aprendida, e é em A Dama Na Água que isso fica ainda mais explícito. É um exercício de ingenuidade mitológica, e desta vez fiquei feliz de ter no filme exatamente o que tinha no trailer: a história de ninar, o conto de fadas. De novo, oferecido com certo sacrifício.

É um passo muito curto para o ridículo, mas de alguma forma, tudo funciona. Ter reconsiderado os ETs de Sinais e admirado a fantasia artesanal dos monstros de A Vila trabalhou significativamente pra isso. A Dama Na Água esconde beleza onde haveria apenas pretensão. E Shyamalan, o projeto de Hitchcock para os tempos modernos, é um cineasta tão genial quanto pretensioso. Paul Giamatti, ódio gratuito meu, consegue nas mãos do indiano o que nem Alexander Payne antes conseguiu: tornar-se um ator simpático. E aos pares com o talento cada vez mais estupendo de Bryce Dallas Howard.

Não faz mal que tudo em A Dama Na Água tenha sido tão malhado. Algumas (outras) obras-primas nasceram do mesmo jeito...

6 Comments:

At 10:09 PM, Anonymous Anônimo said...

Puts!
Nunca tinha passado por aqui, Antônio, mas gostei do que li e vi. Parabéns!
Chamou-me a atenção ser um texto sobre um filme de Shyamalan, um cineasta de que gosto bastante para seu gênero. Concordo contigo. Penso que a gratuidade dos sustos nos filmes de terror passam longe. E a graça está justamente em você desvendar as entrelinhas e encontrar uma história intrigante. Ainda não assisti A Dama Na Água, mas será meu próximo, com certeza.
Beijão.

 
At 3:56 AM, Blogger CHICO FIREMAN said...

Eu amo esse filme. Gostei muito das suas idéias sobre ingenuidade mitológica.

 
At 11:46 PM, Blogger Rodrigo Azevedo said...

Fala Antônio!

O Cine Majestic morreu, criei um outro blog há dias e este seu é um dos poucos que nao esqueci (um do quatro, para ser mais exato!)

Mas vamos lá...

Não assisti "A Dama na Água" porque não deu tempo! O filme ficou uma semaninha em cartaz. Nao gosto do diretor, implicância mesmo (o unico dele que gostei foi "A Vila"). Enfim...

Você não gostou de "Carros"? Que triste :-P

 
At 4:59 PM, Blogger Rodrigo Azevedo said...

Pode colocar entre os seus links sim :-)

E o Diabo Veste Prada não entrou em cartaz aí? Que coisa! Achei que a distribuição tivesse sido boa. Ao menos pareceu...

 
At 5:01 PM, Blogger Rodrigo Azevedo said...

Tá..
Voce já adicionou meu blog aí do lado. hehe

Acabei de ver :-P

 
At 9:32 PM, Anonymous Anônimo said...

eu não goste de quase nada nesse filme...
infelizmente.

 

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