Limão Matutino

Quarta safra

26.9.06

Coisas belas e sujas


A Criança, de Jean-Pierre e Luc Dardenne

O Bruno de Jérémie Renier em A Criança é um dos personagens mais desagradáveis a surgir no cinema em bastante tempo (pra mim, desde o Harvey Pekar do Paul Giamatti em Anti-Herói Americano, mas por motivos diferentes). Claro que, sob o foco dos irmãos Dardenne, ele fica aquém de julgamento explícito. Não é um filme-denúncia, não tenta justificar nada – é a moda da arte. O que não quer dizer que sirva pra transformar o longa, Palma de Ouro em Cannes ano passado, num grande achado.

Sem dúvida é cinema dos mais envolventes. Os Dardenne nos fazem acompanhar com interesse quase mórbido (e compartilhado) aquela criança recém-nascida nas mãos de pais tão imbecis. A moça, até tem o instinto materno e toda aquela gama de sentimentos bonitos, mas num ato de extrema estupidez entrega o filho ao pai, ladrão e malandro, que não hesita em vender a cria para o mercado negro de adoções ("achei que podíamos fazer outro", é a desculpa tão previsível quanto desconcertante).

Então vamos descobrindo que a criança do título não é o pequeno Jimmy, mas o tal do Bruno, que passa o filme inteiro com a mesma roupa nojenta, trocando mercadoria roubada por desejos mundanos e enfiando, literalmente, o pé na lama. Ele até apanha na cara e passa fome, antes da redenção que vem com a culpa assumida e um belo banho. Já não era sem tempo!

2 Comments:

At 12:27 PM, Anonymous Anônimo said...

Quando assisti "A Criança" sai desesperado do cinema, pois o filme é muito melancolico e sou fã do estilo de cinema feito pelos irmãos Dardenne.
Maravilhoso

 
At 7:39 PM, Anonymous Anônimo said...

Por que nao:)

 

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